sexta-feira, 11 de abril de 2025

Os Momentos Privilegiados da Vida


 "Há na vida momentos privilegiados nos quais parece que o Universo se ilumina, que nossa ida nos revela sua significação, que nós queremos o destino mesmo que nos coube como se nós próprios o tivéssemos escolhido. Depois o Universo volta a fechar-se: tornamo-nos novamente solitários e miseráveis, já não caminhamos se não tateando por um caminho obscuro onde tudo se torna obstáculo a nossos passos. A sabedoria consiste em conservar a lembrança desses momentos fugidios, em saber fazê-los reviver, em fazer deles a trama da nossa existência cotidiana e, por assim dizer, a morada espiritual de nosso espírito."
Louis Lavelle


"Para todo homem e para cada acontecimento há um minuto, uma hora, soa uma certa badalada, em que ele próprio se torna história."                                                                                                     Péguy


Você já parou pra pensar em todos os momentos que te fizeram ser o que és? Todos os acontecimentos que marcaram nossa trajetória, sejam eles bons ou ruins, nos moldaram até o presente momento. Somos o resultado deles. Porém, há outro nível de experiência, que raramente fruimos, a que Louis Lavelle se refere em sua transcendental afirmação: momentos privilegiados

Se fizermos uma analogia com o cinema são aqueles momentos-chave do filme quando o sentido profundo da obra se descortina perante nossos olhos e compreendemos a mensagem em sua totalidade. Partindo do princípio de que cada um de nós somos filmes - ou Histórias - ambulantes, devemos nos perguntar sempre: estou consciente desses momentos privilegiados nos quais parece que o universo se ilumina? Ou, se me permite ir mais fundo, será que os vivi plenamente?

Na literatura, um desses momentos privilegiados é vivido por Stepan Trofímovitch - "o velho" - intelectual decadente que fez a cabeça de inúmeros jovens revolucionários no romance Os Demônios, de Dostoievski. Eis o que ele revela, nos últimos momentos, à sua amiga de longa data:

"Minha amiga, eu menti durante toda a vida. Mesmo quando dizia a verdade. Nunca falava pela verdade, mas apenas por mim próprio, sempre o soube, mas só agora o vejo claramente... Oh, onde estão os amigos a quem eu insultei com a minha amizade durante toda a vida? e a todos, a todos! Savez-vous, se calhar estou mentindo também agora, por certo estou mentindo. O pior é que eu próprio acredito nas minhas mentiras. O mais difícil na vida é viver e não mentir... e... e não acreditar na nossa própria mentira, sim, sim, exatamente! Mas, espere, isso tudo depois... Agora estamos juntos, juntos! (...) Oh, gostaria de viver outra vez! - exclamou ele, num fluxo de energia. - Cada minuto, cada instante da vida têm de ser uma bem-aventurança para o homem... têm de o ser, necessariamente! É obrigação do próprio homem organizar as coisas assim, é a lei por que deve reger... uma lei oculta, mas que existe de certeza..."


Quantos de nós teremos a graça divina de contemplar conscientemente momentos como este de Stepan? Em que o véu da aparência material cai ante nossos olhos e conseguimos enxergar as coisas como elas realmente são: eternas.
 

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