"As três coisas que ele mais amou na vida: o poder, a arte e mulher pelada."
A afirmação acima encerra a biografia de Assis Chateaubriand escrita, de forma magistral, por Fernando Morais. Em Chatô: O Rei do Brasil somos apresentados ao homem mais poderoso do Brasil no século XX - pelo menos, até os anos 60. Nascido em Umbuzeiro, na Paraíba, em 1892, Francisco de Assis demorou para ser alfabetizado, mas adquiriu sólida formação cultural e filosófica estudando obras clássicas em alemão.
Entrou para o mundo do jornalismo no final da primeira década do século XX, período auge da República Velha no Brasil - 1889 a 1930. Chatô se destacou como jornalista através do meio mais comum à época: a polêmica. Após trocar farpas com figurões como Sílvio Romero, Chatô foi para a Capital Federal - e cultural - do Brasil, o Rio de Janeiro, em busca de se consolidar no meio jornalístico.
Chateaubriand conseguiu se integrar à vida intelectual e política do Rio de Janeiro através do investimento na "ampliação de seu cartel de amizades influentes" com o objetivo de realizar o grande sonho de comprar um jornal. Por isso, em 1924, aos 31 anos, "Chatô tinha acumulado enorme prestígio (...) e era inegavelmente uma figura influente entre político e emprersários das, na época, chamadas 'clases conservadoras'."
O principal capital acumulado pelo jornalista não era material, mas abstrato: as amizades. Uma das mais bem sucedidas foi, certamente, a que teve com Getúlio Vargas que, ainda deputado no final dos anos 20, disse a Chatô o seguinte: "Mais do que qualquer outra coisa, este país precisa de instituições que lhe dêem unidade. Cada estado brasileiro é uma ilha voltada de costas para as outras, como se fossem países diferentes. A cadeia de jornais que tu projetas pode ser um embrião da unidade nacional por que eu tanto luto. Se precisares de ajuda para a realização de seus planos, podes contar comigo."
Getúlio cumpriu a risca a promessa feita a ponto de, anos depois já como ditador em 1943, alterar a legislação sobre o reconhecimento dos filhos naturais apenas para favorecer Chatô que, na época, disputava a guarda da filha Teresa com a mãe da menina. A cumplicidade entre os amigos foi tão descarada que o decreto-lei feito sob medida para agradar o jornalista ficou conhecido como "Lei Teresoca".
Assis Chateaubriand foi chamado de Cidadão Kane brasileiro em alusão ao magnata das comunicações norte-americano Wiliam Randolph Hearst cuja vida teria inspirado o diretor Orson Welles a criar sua obra-prima do cinema. O certo é que Chatô também poderia ganhar o apelido de outro ícone da sétima arte, Dom Corleone, devido à sua impressionante rede de amizades que lhe rendiam favores financeiros e morais inigualáveis. O poderoso chefão tupiniquim criou uma das maiores cadeias de telecomunicações do mundo, os Diários Associados, com mais de uma centena de veículos entre jornais, rádios, revistas e emissoras de TV que controlaram a opinião pública nacional durante décadas além de ajudar à eleição de inúmeros presidentes - de Getúlio à JK - e arruinar a reputação dos opositores.
Ao ler a biografia de Chatô, entendi mais sobre a História do Brasil no século XX do que se tivesse lido manuais didáticos ou acadêmicos. A trajetória do ícone da telecomunicação do Brasil é um prato cheio para reteiristas de séries. Daria uma trilogia de três horas cada parte tamanho foi seu peso na vida pública brasileira. Sua sanha por poder o levou até ao Senado e, até, ao mundo das Artes tendo criado o Museu de Arte de São Paulo. Leitura obrigatória para todos que querem realmente entender o que se passou no país durante a primeira metade do século passado.
Como alternativa, deixo o link do trailer do filme baseado na biografia de Chatô: https://www.youtube.com/watch?v=LkOnT0lS3rQ&t=1s
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