A Literatura - com l maiúsculo - tem o poder de revelar as melhores respostas para os mistérios da vida. Ela lança pistas do trajeto que é preciso percorrer para alcançar a sabedoria atemporal presente nas grandes obras clássicas da humanidade.
Para isso, devemos buscar as coisas que não passam, ou seja, que não estão sob o julgo do que é passageiro. Temos de transcender o tempo em busca do que está fora dele. William Butler Yeats nos deu uma pista do lugar que está além do tempo: a Bizâncio, metáfora do local onde se encontra a Sabedoria atemporal, por isso, verdadeira pois não muda.
RUMO A BIZÂNCIO
I
Este país não é para velhos. Jovens
Abraçados, pássaros que nas árvores cantam
— essas gerações moribundas —
Cascatas de salmões, mares de cavalas,
Peixe, carne, ave, celebrando ao longo do Verão
Tudo quanto se engendra, nasce e morre.
Prisioneiros de tão sensual música todos abandonam
Os monumentos de intemporal saber.
II
Um velho é coisa sem valor,
Um andrajo apoiado num bordão, a não ser que
A alma aplauda e cante, e cante mais alto
Cada farrapo da sua mortal veste.
Nem há escola de canto somente o estudo
Dos monumentos de seu próprio esplendor;
Por isso cruzei os mares e cheguei
À sagrada cidade de Bizâncio.
III
Oh, sábios que estais no sagrado fogo de Deus
Qual dourado mosaico sobre um muro,
Vinde desse fogo sagrado, roda que gira,
E sede os mestres do meu canto, da minha alma.
Devorai este meu coração; doente de desejo
E atado a um animal agonizante
Ele não sabe o que é; juntai-me
Ao artifício da eternidade.
IV
Da natureza liberto jamais de natural coisa
Retomarei minha forma, meu corpo,
Mas formas outras como as que o ourives grego
Em ouro forja e esmalta em ouro
Para que o sonolento Imperador não adormeça;
Ou em dourado ramo pousado, cantarei
Para damas e senhores de Bizâncio
Cantarei o que passou, o que passa, ou o que virá.
(Trad. José Agostinho Baptista)
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