sábado, 28 de junho de 2025

Apologia de Sócrates - Platão

Apontamentos da aula do prof. José Monir Nasser

. Sócrates é um sujeito cujas convicções pessoais vão de encontro aos interesses da cidade/sociedade; 

. Cada um de nós vive esta tensão existencial: um indivíduo que pertence a determinada sociedade; 

. Sócrates declara que a consciência individual tem autonomia perante o meio social – A Filosofia nasce a partir da autonomia da consciência individual; 

. O sacrifício de Sócrates é o que permite o nascimento da Filosofia, pois garante a existência da consciência individual frente ao autoengano coletivo da maioria; 

. A morte de Sócrates é o ato fundador da Filosofia: é o sacrifício que permite que nós possamos continuar a pensar independentemente como pensam os outros. 

. O que Sócrates faz é decretar que há um tipo de saber humano- a Filosofia – cuja luz ilumina o mundo; 

. A apologia de Sócrates confirma duas teses: 

1. Só o sacrifício produz a estabilidade social; 

2. O sacrifício garante a autonomia da consciência individual perante a sociedade. 

. Vivemos num mundo onde houve o processo de transferência do poder dos indivíduos para o Estado: estatização do pensamento. 

. O poder espiritual deve ser separado do temporal: o poder espiritual só é mantido à custa do sacrifício:

 1. Nosso Senhor se sacrificou pela salvação humana (soberania do poder espiritual); 

2. Sócrates se sacrificou pela soberania do poder da Filosofia, ou seja, da autoconsciência. 

OBS: René Girard afirma que a história humana é fundada por atos de violência; . A civilização humana foi construída por Cain, assassino de seu irmão Abel; 

. O desejo humano é MIMÉTICO e, quando não é satisfeito, recorre-se ao bode-expiatório (alguém que é injustamente responsabilizado por algo que não fez, ou seja, é escolhido para levar a culpa por uma situação negativa); 

. O modo como a sociedade resolve as tensões que podem gerar violência passa sempre pelo sacrifício de uma vítima inocente que, ao morrer em nome da culpa que não tem, recupera a unidade perdida da sociedade.

Carta aos Jovens sobre a Utilidade da Literatura Pagã - São Basílio

 


1. É preciso olhar para cima: buscar as coisas elevadas 


. Com a luz natural da razão, devemos buscar a verdade que está na realidade criada por Deus; 
. Devemos aproveitar “o que há de bom e útil, sempre sabendo aquilo que é preciso rejeitar”; 

2. Como podemos fazer essa distinção? 

. O que é bom é tudo o que me ajuda a alcançar a vida eterna; 

. “Ocuparmo-nos da leitura dos poetas, dos oradores, de todos os escritores que podem nos servir para aperfeiçoar nossa alma. Se quisermos imprimir em nós a ideia de beleza com força suficiente para que seja indelével, devemos nos iniciar nas letras profanas, antes de se empenhar no estudo das coisas sagradas. Primeiro devemos aprender a ver o reflexo do sol nas águas cristalinas e, depois, com a visão fortalecida, olhar diretamente para a luz pura.” (págs. 34-35); 

. Exemplos: “sabemos que Moisés, cuja sabedoria bem conhecemos, dedicou-se às ciências egípcias antes de se dedicar à contemplação das coisas do alto. No século seguinte, o profeta Daniel instruiu-se na sabedoria dos Caldeus da Babilônia, antes de se aplicar às ciências sagradas. Então, podemos concluir que as ciências profanas não são inúteis.” (pág. 38); 

. “A literatura profana nos ajuda a traçar o primeiro esboço da virtude.” (pág. 57); 

3. Conexão com Sócrates 

. São Basílio diz que devemos ouvir os que escreveram sobre a sabedoria louvando a virtude para “incorporar seus princípios à nossa conduta, pois só é sábio quem confirma sua filosofia pelas suas ações”. 

. Sócrates manteve-se fiel à sua filosofia quando fez a sua defesa com um único propósito: estabelecer a verdade.

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Tartufo ou o Hipócrita Profissional

 


Molière (1622-1673) foi um dos mais célebres dramaturgos franceses da História. Era um autor satírico por excelência criando personagens estereotipados cuja caricatura extrema nos mostrava tipos humanos. O Tartufo, um de seus mais conhecidos personagens, era o farsante, ou nas palavras do saudoso professor Monir Nasser, o "hipócrita profissional". 

Nós, brasileiros, estamos rodeados de Tartufos: são os fazedores de discurso, ou melhor, os políticos e malandros do dia-a-dia. Todos já caímos no conto do vigário alguma vez na vida. Pois é, o vigário era um Tartufo. O pior é quando nós fazemos as vezes de vigário e viramos o Tartufo. 

A seguir, compartilho minhas notas da aula do professor José Monir Nasser sobre a obra de Molière.

Tartufo, de Molière

. Tartufo é a denominação dum tipo humano: é o sujeito hipócrita, fingido;
. Molière era um autor satírico, ou seja, usava o humor para fazer crítica social;
. A regra da sátira é estereotipar as personagens para que lidemos com elas da maneira mais emocional possível;
. A questão fundamental da obra é saber por que o Tartufo é um farsante, um mentiroso.
. Os tipos de mentira:
  1. Social: é aceitável, pois sem elas a vida em sociedade seria impossível. Ex: quando você pede para dizer que não está em casa, pois não quer aturar um vizinho mala.
  2. Enganar alguém: em alguns casos, é aceitável. Ex: mentir para um bandido sobre o lugar onde você escondeu o dinheiro.
  3. Patológica: chamada mitomania; o sujeito é mentiroso compulsivo. Ex: toda família tem um sujeito que, de tanto mentir, tornou-se folclórico.
  4. Mentira Existencial: é a mais grave, pois o sujeito não assume as responsabilidades por seus atos. Ex: O Médico e o Monstro - Dr. Jekyll e Mr. Hyde.
. O Tartufo se encaixa no segundo tipo de mentiroso: o que visa um objetivo concreto enganando os outros.
. Por que, afinal de contas, um vigarista como este consegue tanto sucesso?
    • É o "hipócrita profissional" - o sujeito que comete as maiores barbaridades, mas persegue e patrulha a vida alheia como exercícios de pequena moral.
    • O Tartufo é o modelo do político moderno, do militante intelectual moderno, é o roqueiro que é contra o capitalismo, mas que lucra milhões vendendo discos pelo sistema que critica.
    • Essa gente que se acha acima do bem e do mal são todos "tartufos";
. Quais são os instrumentos do Tartufo?
  • Tem que estar munido de valores que não são dele - valores maiores, e que os outros aceitem como tal;
  • Tem que parecer não ter vantagem em defender os seus valores;
  • Tem que contar a história certa, ou seja, ter alguma retórica;
. Caso queira aprender como manipular o mundo, basta aplicar esses três truques.

Link da aula na íntegra do saudoso professor José Monir Nasser - https://www.youtube.com/watch?v=rsSIatdN-k8


domingo, 22 de junho de 2025

Dois Poemas de Raul de Leoni

Quando comecei a me interessar por poesia, logo me deparei com Raul de Leoni. Nascido em Petrópolis, em 1895, o poeta morreu jovem aos 31 anos, em 1926. Apesar de seus poucos anos, produziu poemas sublimes em que trata de questões elevadas com notável sensibilidade e naturalidade. 

Dois foram os poemas que mais chamaram minha atenção:


Legenda dos dias

O Homem desperta e sai cada alvorada
Para o acaso das cousas… e, à saída,
Leva uma crença vaga, indefinida,
De achar o Ideal nalguma encruzilhada…

As horas morrem sobre as horas… Nada!
E ao poente, o Homem, com a sombra recolhida
Volta, pensando: “Se o Ideal da Vida
Não vejo hoje, virá na outra jornada…

Ontem, hoje, amanhã, depois, e, assim,
Mais ele avança, mais distante é o fim,
Mais se afasta o horizonte pela esfera;

E a Vida passa… efêmera e vazia:
Um adiantamento eterno que se espera,
Numa eterna esperança que se adia…


Platônico

As idéias são seres superiores,
— Almas recônditas de sensitivas —
Cheias de intimidades fugitivas,
De crepúsculos, melindres e pudores.

Por onde andares e por onde fores,
Cuidado com essas flores pensativas,
Que tem pólen, perfumes, órgãos e cores
E sofrem mais que as outras cousas vivas.

Colhe-as na solidão… são obras-primas
Que vieram de outros tempos e outros climas
Para os jardins de tua alma que transponho,

Para com ela teceres, na subida,
A coroa votiva do teu Sonho
E a legenda imperial da tua Vida.


sexta-feira, 20 de junho de 2025

O Valor das Dificuldades (Parte II)

 

"Na realidade, cada dificuldade que surge no caminho dos nossos bons propósitos nos põe à prova. É um teste de sinceridade. Porque a dificuldade, incitando-nos a desistir ou a recuar, obriga-nos a tomar uma posição, a determinar se queremos ou não. Com efeito, cada dificuldade provoca uma certa hesitação, e por isso mesmo nos exige uma decisão. A nossa vontade deverá inclinar-se ou pelo lado do ideal moral – dos valores e das virtudes cristãs – ou pelo lado da facilidade."
"As virtudes não consistem em sentimentos, e menos ainda em sentimentalismos, mas em bons hábitos práticos, que devem ser vividos em todas as circunstâncias, favoráveis ou adversas."

. Exemplos de como nossas dificuldades concretas exigem a prática de alguma virtude concreta:

1. Uma dificuldade econômica pode introduzir numa família uma fumaça asfixiante, que vai penetrando nos corações, desgastando a paciência e envenenando os nervos, até transformar o convívio num inferno de apreensões, queixas e mau humor. Pelo contrário, em outra família construída sobre o alicerce da fé e do amor, a mesma dificuldade financeira pode ser o grande momento de união, em que todos aceitam o sacrifício sem um lamento, apoiando-se mutuamente e procurando tornar mais amável a vida dos outros, ao mesmo tempo que cobrem com um sorriso o seu próprio sofrimento.

 

2. Suponhamos que estamos passando por uma situação de excesso de trabalho, que nos faz sentir angustiados. O tempo de que dispomos parece insuficiente para embutir nele tudo o que é preciso fazer. Essa circunstância, essa dificuldade, está provavelmente marcando o momento em que se nos pede que pratiquemos melhor do que nunca a virtude da ordem, que aprimoremos os ritmos de trabalho e a intensidade com que aproveitamos o tempo.

 

3. O problema pode ser uma dificuldade familiar. O filho, que até agora nunca tinha causado preocupação, torna-se problemático: não quer estudar, revolta-se contra as menores indicações dos pais, e há fortes suspeitas de que a turma com que anda está envolvida em drogas... Essa dificuldade pode ser o sinal forte de que é preciso que os pais se deem mais ao filho, amadurecendo nas virtudes que tornam eficaz a sua ajuda: mais compreensão, mais diálogo, dedicação de tempo mais sacrificada.

 

4. Assim, por exemplo, para o sensual dominado pela luxúria, a maior dificuldade será ter de enfrentar a proposta de um amor fiel e sacrificado, feito de generosa doação... Justamente aquilo que é o ideal amável para um coração puro e reto. O casamento, para o primeiro, não deixará de ser uma fonte de problemas e restrições, que chegará a julgar insuportáveis. É isso o que produz a falsificação do amor; é o resultado de uma falsa meta na vida. Pensemos no preguiçoso. De que dificuldades se queixa? Para começar, e de modo global, queixa-se de que as coisas custam: custa pensar, custa trabalhar, custa cumprir o dever. Atrás de cada um dos «custa» do preguiçoso, poderíamos colocar o nome de alguma virtude, que o cristão aprende a amar: diligência, ordem, responsabilidade, abnegação... Todas elas são metas boas para quem está dentro do verdadeiro caminho da vida. Para o preguiçoso, são aborrecimentos e incômodos, porque se desviou para uma meta falsa: o bem-estar comodista.

 

5. Imaginemos um pai de família que um belo dia se propõe sair do seu proverbial mutismo e ultrapassar as habituais respostas monossilábicas e secas. Tenta, mais ou menos desajeitadamente, dizer umas palavras especialmente amáveis à esposa e aos filhos. Não se sabe se pelo insólito do caso, ou porque o diabo meteu o rabo, o fato é que mulher e filhos reagem mal: “Você não se sente bem?”, “Pai, o que é que deu no senhor?” Imediatamente, o pai-caramujo, ferido nas suas melhores intenções, sente o irresistível impulso de se enfiar no mais profundo da sua carapaça e dizer: nunca mais!... Se, no exemplo do pai de família acima mencionado, o protagonista desiste dos seus bons propósitos, estará optando pelo orgulho (não estará disposto a sofrer uma pequena humilhação pelo bem); pelo contrário, se persevera no esforço, optará pelos valores cristãos da humildade e do amor; e, na medida em que prosseguir na luta por melhorar a sua caridade, por abrir um espaço novo ao amor na rispidez do seu caráter, estará firmando em si uma nova e mais alta qualidade moral, crescerá em estatura espiritual e se tornará, no sentido mais profundo e verdadeiro do termo, um homem melhor.


(Excertos retirados da obra O Valor das Dificuldades, de Francisco Faus)


domingo, 15 de junho de 2025

O Valor das Dificuldades (Parte I)

 


Foi com grande alegria que li o livro O Valor das Dificuldades. Escrita pelo pe. Francisco Faus, este livreto deveria ser leitura obrigatória para todos que querem ter uma vida mais plena no serviço a Deus e, consequentemente, ao próximo.

Por tratar de tema muitas vezes esquecido no vendaval de distrações cotidianas, o sofrimento é encarado como algo sempre negativo que nos distancia dos bens desejados. Mas será que é isso mesmo? Ou será que o sofrimento, ao invés de ser algo ruim é, pelo contrário, algo necessário para o nosso bem?

Compartilho alguns apontamentos feitos após a leitura desta pequena obra, porém grandiosa em seus efeitos, a ponto de cair como uma bomba em minha consciência, que ajudou a destruir algumas coisas que me afastavam de Deus.

Excertos Selecionados e Apontamentos Pessoais

. Seja qual for o assunto nesta vida, nada é fácil;

·       É difícil viver, trabalhar, ser honesto, ser casado, ser solteiro...

. Será que a dificuldade é uma circunstância sempre negativa? Não terá nenhum sentido positivo, nenhum valor?

·       Em si mesmas, as dificuldades não são nem boas nem más.

·       O seu valor e sentido dependem da atitude que se adota diante delas.

. O que é dificuldade?

·       É aquilo que surge como obstáculo para o nosso bem;

·       Qual é, na realidade, o nosso bem? A resposta dependerá sempre do ideal que norteia a nossa vida.

·       Para um materialista, que reduz a existência à satisfação dos desejos, o bem é aquilo que o satisfaz, o que lhe dá prazer, mesmo que acabe prejudicando os outros.

. Obstáculos para a Virtude:

1.      Dificuldades Objetivas: situações que não dependem de nós, mas das circunstâncias;

2.      Dificuldades Subjetivas: situações que vão sendo geradas pelo nosso próprio egoísmo, pelo comodismo ou pela falta de generosidade;

. Pergunta fundamental – Que é que eu procuro na vida?

. Duas maneiras de gerar dificuldades subjetivas:

1.      Ter uma meta errada;

2.      Ter uma meta baixa;

·       Ambas são estimuladas por nossa sociedade consumista/materialista.

. É preciso encontrar o sentido da minha vida:

·       O sentido da vida passa pelo serviço ao próximo em Cristo Nosso Senhor;

·       Esquecer-se de si mesmo através do servir ao próximo;

sábado, 7 de junho de 2025

Xadrez na Ópera

 

Ninguém duvida do talento avassalador de Paul Morphy no xadrez. Talvez a miniatura mais famosa da história do xadrez tenha sido a que ele jogou contra o Duque de Brunswick. A partida se realizou na Ópera de Paris durante a representação do Barbeiro de Sevilha.




Essa bela partida é um exemplo do padrão de mate entre Torre e Bispo. Estude os padrões no xadrez e, sem dúvida, serás um jogador mais forte. 



Atividade de Criação com Machado de Assis

Veja como é original o capítulo XLV de Memórias Póstumas , onde Brás Cubas fala do enterro de seu pai: "Soluços, lágrimas, casa armada,...