Quando comecei a me interessar por poesia, logo me deparei com Raul de Leoni. Nascido em Petrópolis, em 1895, o poeta morreu jovem aos 31 anos, em 1926. Apesar de seus poucos anos, produziu poemas sublimes em que trata de questões elevadas com notável sensibilidade e naturalidade.
Dois foram os poemas que mais chamaram minha atenção:
Legenda dos dias
O Homem desperta e sai cada alvorada
Para o acaso das cousas… e, à saída,
Leva uma crença vaga, indefinida,
De achar o Ideal nalguma encruzilhada…
As horas morrem sobre as horas… Nada!
E ao poente, o Homem, com a sombra recolhida
Volta, pensando: “Se o Ideal da Vida
Não vejo hoje, virá na outra jornada…
Ontem, hoje, amanhã, depois, e, assim,
Mais ele avança, mais distante é o fim,
Mais se afasta o horizonte pela esfera;
E a Vida passa… efêmera e vazia:
Um adiantamento eterno que se espera,
Numa eterna esperança que se adia…
Platônico
As idéias são seres superiores,
— Almas recônditas de sensitivas —
Cheias de intimidades fugitivas,
De crepúsculos, melindres e pudores.
Por onde andares e por onde fores,
Cuidado com essas flores pensativas,
Que tem pólen, perfumes, órgãos e cores
E sofrem mais que as outras cousas vivas.
Colhe-as na solidão… são obras-primas
Que vieram de outros tempos e outros climas
Para os jardins de tua alma que transponho,
Para com ela teceres, na subida,
A coroa votiva do teu Sonho
E a legenda imperial da tua Vida.
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