Quando vi o livro A Dança dos Deuses: futebol, cultura, sociedade dando sopa na finada livraria Itatiaia, em Duque de Caxias, comprei-o na hora. Era o ano de 2008, ainda estava na faculdade de História e tive sorte de encontrar a obra naquele momento, pois o futebol como tema histórico me interessava muito, tanto que escrevi, alguns anos depois, um artigo sobre os times de várzea de Duque de Caxias durante as décadas de 50 e 60.
A obra, escrita pelo lendário historiador Hilário Franco Junior, mudou minha visão do velho esporte bretão. Trata-se de uma análise completa sobre os aspectos não só históricos, mas sobretudo sócioculturais do futebol na formação do mundo moderno. A simbologia do futebol é abordada na formação das identidades coletivas. É uma obra obrigatória para os amantes da pelota.
Deixarei registrado minhas anotações sobre o capítulo 6 - Metáfora Antropológica:
- Conceito de clã: é um grupo que acredita descender de um ancestral comum, mais mítico que histórico, contudo vivo na memória coletiva. (pág. 214);
- "O clã tem base territorial, mas quando precisa mudar de espaço (jogar em outro estádio) não se descaracteriza. Em qualquer lugar, os membros do clã se reconhecem (...) pelo nome, brasão e totem." (pág. 2015);
- Características definidoras do clã: NOME, BRASÃO E TOTEM (segundo o sociólogo e antropólogo Marcel Mauss);
- NOME: "identifica os indivíduos e permite comportamento diferenciado a fim de revelar pretensa superioridade em relação aos outros, justificar a razão da adesão a ele" - adesão por sentimento a uma região, um bairro, um clube famoso;
- BRASÃO: "o escudo dos clubes de futebol constitui seu símbolo (sinal de reconhecimento) maior. O escudo é praticamente a síntese material do clube, sua corporificação" - as cores desempenham papel central (pág. 217), pois definem a identidade comunitária: 'a escolha das cores serve para cada clube construir a imagem que deseja ter para as outras comunidades'.
- TOTEM (mascote): "indica objeto que serve ao mesmo tempo de identificador de pertencimento à comunidade e de cimentador dessa identidade coletiva" - sociedade totêmica (pág. 220);
- Roger Chartier: em todo fenômeno humano existe 'uma representação da sociedade por ela mesma' (pág. 222);
- Futebol, simbolicamente uma festa (pág. 246): "Não é uma festa qualquer. Festa arcaica, profundamente ritualizada, festa que envolve toda a sociedade, que cumpre o papel de exutório (escoamento) para suas disfunções internas e externas".
- "Os códigos sociais e morais são reforçados ou quebrados na festa, quando se come, bebe, veste, fala e se estabelecem laços pessoais diferentemente ds situações comuns."
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