sexta-feira, 4 de julho de 2025

Jesus Cristo e o Cinema

 



O pequeno livro de Douglas Esteves Moutinho foi uma grata descoberta. Nunca tinha lido nada a respeito das adaptações da vida de Nosso Senhor antes. Eis alguns apontamentos que fiz da obra:


1. Golgotha (1935) 

“Se apropria de Jesus em prol de uma genuína propaganda antissemita.” 


2. O Evangelho Segundo São Mateus (1964) 

“Crítica às diversas interpretações da mensagem de Jesus ao longo dos séculos, que segundo o autor distanciaram a religião cristã da mensagem original de Cristo.”

 • O filme faz parte da lista oficial de filmes recomendados pelo Vaticano.

 • “Pelo conteúdo do filme, não surpreende essa aceitação, pois a obra é bela e facilmente agradaria a cristãos e ateus, pois a sua beleza não reside na força de mensagens dogmáticas, mas sim na mensagem de Jesus.” (pág. 76) 

“A minha ideia é esta: seguir ponto por ponto o Evagelho segundo Mateus, sem fazer um roteiro ou uma adaptação. Traduzi-lo fielmente em imagens, seguindo-o sem qualquer omissão ou acréscimo à narrativa. É uma obra de poesia que quero fazer. Não uma obra religiosa, no sentido vulgar da palavra, nem, de modo algum, uma obra ideológica. Falando de forma bem simples: eu não acredito que Cristo seja filho de Deus, porque não sou crente, pelo menos conscientemente. Mas creio que Cristo é divino, ou seja, acredito que nele a humanidade seja tão elevada, rigorosa e ideal que ultrapassa os termos comuns da humanidade. Por isso, digo ‘poesia’: instrumento irracional para exprimir este meu sentimento irracional em relação a Cristo.” (Pasolini, 1983) 

“A trilha sonora transmite a mensagem de que Cristo veio para todos, pois unia Bach, Mozart, Prokofiev e Anton Werb, bem como músicas originais de Luis Bacalov, spiritual negros, canções revolucionárias e hinos hebraicos.” (pág. 80) 

“Seu Jesus, ao mesmo tempo que se aproxima intimamente ao Jesus bíblico, se apresenta como um líder do povo, flertando comas crenças políticas do autor.” (pág. 81). 


3. Jesus de Nazaré (1977) 

“O produtor do filme, Lew Grade, foi recebido pelo então papa Paulo VI, que o parabenizou pela obra (Moisés: o Legislador) e disse esperar que seu próximo projeto fosse a vida de Jesus.” (pág. 82)

 • Franco Zeffirelli “trabalhou com diretores renomados do neorrealismo, tais como de Sica, Rossellini e Visconti.” (pág. 82) 

O diretor ”desejava realizar uma obra coerente com a crença de todas as pessoas, cristãs e não-cristãs.” (pág. 83) 

“O Jesus foi interpretado por Robert Powell, ator de características norte-europeias, com a justificativa de representar Jesus da forma que os americanos o reconheciam. Tal representação é oriunda de pinturas renascentistas.” 

“O filme foi baseado nos quatro evangelhos, mesclando as suas narrativas, sendo uma espécie de Diatessaron. Tendo o filme essa premissa, foi necessário certo naturalismo ao contar a história. Por isso, inúmeras cenas que não estão nos evangelhos foram criadas para preencher as lacunas da narrativa.” (pág. 86) 

“Podemos dizer que o filme possui um caráter didático e evangelizador por ter sido narrado dessa forma, facilitando a recepção dos evangelhos. Não é por acaso que essa obra é talvez a maior referência bíblica já realizada no cinema.” (pág. 86) 

“Através do longa de Zeffirelli, foi possível que analfabetos e pessoas sem fé ivessem acesso às palavras contidas nos evangelhos. Diferentemente do longa de Pasolini, que se direcionava a um público mais intelectual.” (pág. 86) 


4. A Paixão de Cristo (2004) 

“Quanto a altíssima violência, devemos lembrar da origem da palavra paixão, do grego páthos, que significa sofrimento. Assim sendo, é completamente plausível a escolha da violência para ilustrar o sofrimento de Jesus.” (pág. 88) 

“A Paixão de Cristo foi inspirado não apenas nos evangelhos, como também no livro do Apocalipse (como na cena em que Jesus cai pela segunda vez e encontra o rosto de sua mãe e diz que “todas as coisas se renovam”), como também no Tanakh, além  de na iconografia, como as versões da Via Sacra, o sudário de Turim, obras de Caravaggio e a Pietá de Bouguereau.” (pág. 89) 

“o Livro A Dolorosa Paixão de Nosso Senhor  Jesus Cristo, também auxiliou Gibson com a questão das feridas de Cristo na Via Crucis.” (pág. 89) 

“A memória, a consciência do sofrimento de Cristo é parte de uma ‘pedagogia’ de aprendizado religioso extremamente antiga. Representações iconográficas ao longo de toda a história do cristianismo, mais destacadamente após o ano 1000, na Europa, já traziam o tema do sofrimento. Que dizer do barroco? O catolicismo que herdamos de portugueses e espanhóis era trágico, dramático, impressionante, diferente da devoção aparentemente sem imagens dos protestantes norte-americnos e europeus. Se a violência não está na Bíblia, ela está na cultura religiosa cristã, em vários momentos e espaços. O que um filme dessa temática faz, dentre outras coisas, é recriar símbolos, histórias e diálogos para conformar uma mensagem de sentido existencial e religioso.” (BELLOTTI, Karina. A Paixão de Cristo – A Verdade pela Fantasia)


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