terça-feira, 27 de maio de 2025

Seis Personagens à Procura de um Autor - Pirandello

 

Notas sobre a Obra

“A Consciência moderna parece um angustiante sonho. Uma desesperada investida em que milhões de bandeiras agitam-se por um momento e, imediatamente, desaparecem por serem substituídas por outras. Em que os adversários estão confusos e misturados. E todos lutam por si mesmos, em sua própria defesa, contra amigo e inimigo.” (Luigi Pirandello, Arte e Consciência de Hoje)

. Pirandello é da Sicília, região pobre da Itália (equivalente ao Nordeste brasileiro);

·       Viveu à época do Risorgimento – movimento político nacionalista italiano do século XIX;

·       O autor foi melhor dramaturgo que romancista;

·       Foi o maior renovador do teatro italiano e uma das maiores influências do teatro moderno;

·       Seis Personagens à Procura de um Autor é sua melhor peça;

·       A estreia da peça se deu em 1921;

. A obra de Pirandello versa, principalmente, sobre o problema da identidade humana:

·       A peça em questão é sobre meta-teatro, uma invenção do século XX;

·       Frase-chave da peça: “É exatamente isso! Dar vida a seres mais vivos que aqueles que respiram e vestem roupas! [As personagens são] Menos reais, talvez, porém mais verdadeiros.”

·       As personagens são abstrações que só existem no papel, porém, nesta peça, são reais (personificadas);

. O fio condutor da peça é o desejo das personagens existirem nos atores;

·       A personagem não existe no tempo, mas fora dele na Eternidade;

·       “A arte é mimesis (imitação) da vida.” Aristóteles;

. O que é o ator? É alguém que assume personagens que não são ele mesmo;

·       Qual o problema do ator? Ele só existe em função das personagens.

·       O que marca a personalidade dos atores na peça é a arrogância, pois acham que as personagens dependem deles (atores) para existirem.

. O que é a personagem? São esquemas abstratos que existem apenas na ficção.

·       Qual é o problema da personagem? Ela precisa necessariamente de um autor.

·       As personagens parecem mais humanas que os atores, porque representam a humanidade propriamente dita;

OBS: As personagens devem ter uma série de características que lhes dão verossimilhança (parecer com a verdade);

. As personagens serão sempre as mesmas: imortais

·       As personagens são eternas, os atores são mortais.

·       A personagem estará para sempre presa ao mesmo destino: é prisioneira de si mesma;

. As personagens estão à procura de um autor (criador) que lhes deem SENTIDO.

·       O criador confere sentido à criatura;

·       Foi o autor que aprisionou as personagens aos seus destinos;

. Todas as peonagens da peça são pecadoras que estão aprisionadas na condição pecaminosa em que se encontram;

·       As personagens estão à procura de um autor, ou seja, de um sentido existencial;

·       Elas estão revoltadas contra o Autor/Criador que os aprisionou numa determinada realidade ontológica;

. A rebelião fundamental do ser humano é metafísica: contra sua condição de criatura (personagem).

·       A peça é uma ilustração simbólica do dilema existencial humano com a sua condição de criatura (personagem) e criador (autor);

·       O problema central do ser humano é saber qual é o seu limite como criatura (personagem) e qual o seu potencial como criador (autor).

Excertos selecionados da peça:

Diretor (furioso)

“Silêncio! E prestem atenção quando explico! (Virando-se para o ator principal) Sim, senhor, a casca; ou, em outras palavras: a forma oca da razão, sem o recheio do instinto, que é cego. O senhor é a razão e sua mulher, o instinto, num jogo de papéis preestabelecido, no qual você é, voluntariamente, o fantoche de si mesmo. Entendeu?”

Pai

“Mas todo o mal está nisso! Nas palavras. Todos trazemos dentro de nós um mundo de coisas: cada qual tem o seu mundo de coisas! E como podemos entender-nos, senhor, se, nas palavras que eu digo, coloco o sentido e o valor das coisas como são dentro de mim, enquanto quem as ouve lhes dá, inevitavelmente, o sentido e o valor que elas têm para ele, no mundo que traz consigo? Achamos que nos entendemos... e nunca nos entendemos! Veja: a minha compaixão, toda a minha compaixão por esta criatura (aponta a Mãe), ela a considerou a mais terrível das crueldades!”

“Senhor, cada um se veste com a sua dignidade por fora, diante dos outros; mas dentro de si sabe muito bem tudo de inconfessável que se passa no seu íntimo.”

“Bem, quero dizer... a representação que fará, mesmo pondo em prática todos os recursos d caracterização para ficar parecido comigo... acho que, com essa altura... (todos os atores riem) dificilmente poderá ser uma representação de mim, como realmente sou. Antes vai ser, pondo de parte o aspecto, mais como lhe parece que sou, como o senhor me sente, se é que me sente, e não como eu me sinto, dentro de mim. E creio que isso deve ser levado em conta por quem for chamado a nos julgar.”

Mãe

“Não! Acontece agora, acontece sempre! A minha tortura não é fingida, senhor! Estou viva e presente, sempre, em cada momento da minha tortura que se renova, sempre. Mas aqueles dois pequenos ali, o senhor os ouviu falar? Eles não podem mais falar! Ainda estão agarrados a mim, para manter viva e presente minha tortura: mas eles, para si mesmos, não existem mais!”

Pai

“O momento eterno, como já lhe disse senhor!” [A personagem vive sempre o momento eterno, fora do tempo.]

(Após observá-los, com um fraco sorriso) “Assim, como é! Qual outra realidade poderia ser? Aquela que para os senhores é uma ilusão por criar, para nós é a nossa única realidade. E não apenas para nós, acredite! Pense bem! (Olha nos olhos.) Sabe nos dizer quem é o senhor? (E continua com o indicador apontado para ela.)

“Um personagem, senhor, pode sempre perguntar a um homem quem ele é. Porque um personagem tem, verdadeiramente, uma vida sua, assinalada por caracteres próprios, em virtude dos quais é sempre ‘alguém’. Enquanto um homem, não me refiro ao senhor agora, um homem, assim, em geral, pode não ser ninguém.”

“Pensei que o tivesse compreendido desde o início.”

Diretor

“Mais real do que eu?”

Pai

Se a sua realidade pode mudar, de hoje para amanhã...

Diretor

Mas se sabe que pode mudar, é claro. Muda continuamente, como a de todo mundo!”

Pai

“Mas a nossa, não! Está vendo? A diferença é esta! Não muda, não pode mudar, nem ser outra, nunca, porque já está fixada para sempre (é terrível, senhor), esta realidade imutável, que devia fazê-los arrepiar ao se aproximarem de nós!”

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Atividade de Criação com Machado de Assis

Veja como é original o capítulo XLV de Memórias Póstumas , onde Brás Cubas fala do enterro de seu pai: "Soluços, lágrimas, casa armada,...