“A
Consciência moderna parece um angustiante sonho. Uma desesperada investida em
que milhões de bandeiras agitam-se por um momento e, imediatamente, desaparecem
por serem substituídas por outras. Em que os adversários estão confusos e
misturados. E todos lutam por si mesmos, em sua própria defesa, contra amigo e
inimigo.” (Luigi Pirandello, Arte e Consciência de Hoje)
. Pirandello é da Sicília, região
pobre da Itália (equivalente ao Nordeste brasileiro);
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Viveu à época do Risorgimento – movimento político nacionalista italiano do século
XIX;
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O autor foi melhor dramaturgo que romancista;
·
Foi o maior renovador do teatro italiano e uma
das maiores influências do teatro moderno;
·
Seis Personagens à Procura de um Autor
é sua melhor peça;
·
A estreia da peça se deu em 1921;
. A obra de Pirandello versa,
principalmente, sobre o problema da identidade humana:
·
A peça em questão é sobre meta-teatro, uma invenção
do século XX;
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Frase-chave da peça: “É exatamente isso! Dar vida
a seres mais vivos que aqueles que respiram e vestem roupas! [As personagens são] Menos
reais, talvez, porém mais verdadeiros.”
·
As personagens são abstrações que só existem no
papel, porém, nesta peça, são reais (personificadas);
. O fio condutor da peça é o
desejo das personagens existirem nos atores;
·
A personagem não existe no tempo, mas fora dele
na Eternidade;
·
“A arte é mimesis (imitação) da vida.”
Aristóteles;
. O que é o ator? É
alguém que assume personagens que não são ele mesmo;
·
Qual o problema do ator? Ele só existe em função
das personagens.
·
O que marca a personalidade dos atores na peça é
a arrogância, pois acham que as personagens dependem deles (atores) para
existirem.
. O que é a personagem?
São esquemas abstratos que existem apenas na ficção.
·
Qual é o problema da personagem? Ela precisa
necessariamente de um autor.
·
As personagens parecem mais humanas que os
atores, porque representam a humanidade propriamente dita;
OBS: As personagens devem ter uma
série de características que lhes dão verossimilhança (parecer com a verdade);
. As personagens serão sempre as
mesmas: imortais
·
As personagens são eternas, os atores são
mortais.
·
A personagem estará para sempre presa ao mesmo
destino: é prisioneira de si mesma;
. As personagens estão à procura
de um autor (criador) que lhes deem SENTIDO.
·
O criador confere sentido à criatura;
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Foi o autor que aprisionou as personagens aos
seus destinos;
. Todas as peonagens da peça são
pecadoras que estão aprisionadas na condição pecaminosa em que se encontram;
·
As personagens estão à procura de um autor, ou
seja, de um sentido existencial;
·
Elas estão revoltadas
contra o Autor/Criador que os aprisionou numa determinada realidade
ontológica;
. A rebelião
fundamental do ser humano é metafísica: contra sua
condição de criatura (personagem).
·
A peça é uma ilustração simbólica do dilema
existencial humano com a sua condição de criatura (personagem) e criador
(autor);
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O problema central do ser humano é saber qual é
o seu limite como criatura (personagem) e qual o seu potencial como criador
(autor).
Excertos selecionados da peça:
Diretor (furioso)
“Silêncio! E prestem atenção
quando explico! (Virando-se para o ator
principal) Sim, senhor, a casca; ou, em outras palavras: a forma oca da
razão, sem o recheio do instinto, que é cego. O senhor é a razão e sua mulher,
o instinto, num jogo de papéis preestabelecido, no qual você é,
voluntariamente, o fantoche de si mesmo. Entendeu?”
Pai
“Mas todo o mal está nisso! Nas
palavras. Todos trazemos dentro de nós um mundo de coisas: cada qual tem o seu
mundo de coisas! E como podemos entender-nos, senhor, se, nas palavras que eu
digo, coloco o sentido e o valor das coisas como são dentro de mim, enquanto
quem as ouve lhes dá, inevitavelmente, o sentido e o valor que elas têm para
ele, no mundo que traz consigo? Achamos que nos entendemos... e nunca nos
entendemos! Veja: a minha compaixão, toda a minha compaixão por esta criatura (aponta a Mãe), ela a considerou a mais
terrível das crueldades!”
“Senhor, cada um se veste com a
sua dignidade por fora, diante dos outros; mas dentro de si sabe muito bem tudo
de inconfessável que se passa no seu íntimo.”
“Bem, quero dizer... a
representação que fará, mesmo pondo em prática todos os recursos d
caracterização para ficar parecido comigo... acho que, com essa altura... (todos os atores riem) dificilmente
poderá ser uma representação de mim, como realmente sou. Antes vai ser, pondo
de parte o aspecto, mais como lhe parece que sou, como o senhor me sente, se é
que me sente, e não como eu me sinto, dentro de mim. E creio que isso deve ser
levado em conta por quem for chamado a nos julgar.”
Mãe
“Não! Acontece agora, acontece
sempre! A minha tortura não é fingida, senhor! Estou viva e presente, sempre,
em cada momento da minha tortura que se renova, sempre. Mas aqueles dois
pequenos ali, o senhor os ouviu falar? Eles não podem mais falar! Ainda estão
agarrados a mim, para manter viva e presente minha tortura: mas eles, para si
mesmos, não existem mais!”
Pai
“O momento eterno, como já lhe
disse senhor!” [A personagem vive sempre o momento eterno, fora do tempo.]
(Após observá-los, com um fraco sorriso) “Assim, como é! Qual outra
realidade poderia ser? Aquela que para os senhores é uma ilusão por criar, para
nós é a nossa única realidade. E não apenas para nós, acredite! Pense bem!
(Olha nos olhos.) Sabe nos dizer quem
é o senhor? (E continua com o
indicador apontado para ela.)
“Um personagem, senhor, pode
sempre perguntar a um homem quem ele é. Porque um personagem tem,
verdadeiramente, uma vida sua, assinalada por caracteres próprios, em virtude
dos quais é sempre ‘alguém’. Enquanto um homem, não me refiro ao senhor agora,
um homem, assim, em geral, pode não ser ninguém.”
“Pensei que o tivesse
compreendido desde o início.”
Diretor
“Mais real do que eu?”
Pai
Se a sua realidade pode mudar, de
hoje para amanhã...
Diretor
Mas se sabe que pode mudar, é
claro. Muda continuamente, como a de todo mundo!”
Pai
“Mas a nossa, não! Está vendo? A
diferença é esta! Não muda, não pode mudar, nem ser outra, nunca, porque já está
fixada para sempre (é terrível, senhor), esta realidade imutável, que devia
fazê-los arrepiar ao se aproximarem de nós!”